Fabíola Eggers, diretora da Federasul, fala sobre a importância do ESG nas práticas empresariais


20 Junho 2023

Na nova edição da nossa revista Cenário Empresarial, tivemos o prazer de conversar com Fabíola Eggers, diretora da Federasul e gerente de Relações Institucionais da Fruki, para discutir sobre ESG (sigla em inglês para Environmental, Social and Governance - Ambiental, Social e Governança).


Fabíola contribui com sua expertise e visão sobre a importância da incorporação desses critérios nas práticas empresariais, através do comprometimento, adoção de medidas sustentáveis, com promoção da preservação do meio ambiente, engajamento social e transparência nas governanças corporativas.


Confira a entrevista com os desafios e benefícios de se adotar uma abordagem ESG, bem como o impacto positivo que essas práticas podem trazer, tanto para os negócios quanto para a sociedade como um todo.
 

- O que significa a sigla ESG do ponto de vista prático e por que é importante que as empresas adotem esses princípios?
 

R: ESG, sigla para Environmental, Social and Governance (em português, Ambiental, Social e Governança ou ASG), refere-se a um conjunto de práticas utilizadas para avaliar o impacto de uma empresa na sociedade, no meio ambiente, bem como sua transparência e responsabilidade.
 

Para compreender o significado do ESG, é importante começar identificando as questões que se enquadram nas categorias ambiental, social e de governança. Alguns exemplos dessas questões são:
 

Ambiental:

  • Mudanças climáticas
    Redução de emissões de carbono
    Poluição e escassez de água
    Poluição do ar
    Desmatamento
    Emissões de gases de efeito estufa

Social:

  • Satisfação dos clientes
    Segurança e proteção de dados
    Inclusão de gênero e diversidade
    Relações com comunidades
    Saúde mental

Governança:

  • Composição e atuação do conselho de administração
    Diretrizes de remuneração executiva
    Planejamento sucessório
    Relacionamento com parceiros e terceiros


Ao adotar e promover práticas relacionadas ao ESG, as empresas buscam demonstrar seu compromisso com a sustentabilidade, a responsabilidade social e uma gestão eficiente e transparente. Essas medidas não apenas contribuem para a preservação do meio ambiente e o bem-estar da sociedade, mas também podem gerar benefícios econômicos e fortalecer a reputação da empresa no mercado.
 

- Quais são as principais métricas utilizadas para avaliar o desempenho das empresas em relação a esses critérios?
 

R: As métricas ESG são indicadores de desempenho das operações empresariais em relação a questões ambientais, sociais e de governança, utilizados para avaliar o desempenho e identificar riscos potenciais. Os líderes organizacionais podem incorporar os princípios relacionados a essas áreas nas políticas, relatórios e operações da empresa por meio de análises e benchmarking.
 

Essas métricas são classificadas de acordo com as diferentes áreas de atuação. Por exemplo, no âmbito ambiental, podem ser consideradas informações sobre a redução da emissão de poluentes. Já no aspecto social, são avaliadas práticas relacionadas à diversidade, inclusão e condições de trabalho dignas. Por sua vez, os indicadores relacionados à governança avaliam iniciativas de transparência e ética na gestão, como políticas de combate à corrupção.
 

Por exemplo, o Índice de Sustentabilidade Empresarial da Bolsa de Valores (ISE B3), qualifica empresas que promovem práticas sustentáveis na sociedade. Essa qualificação permite que elas façam parte de carteiras de investimento com esse viés. Outro exemplo é o Dow Jones Sustainability Index (DJSI), que destaca as empresas mais socialmente responsáveis. Esses índices são referências de empresas comprometidas com a sociedade e o meio ambiente, e são ferramentas essenciais para investidores que prezam pela geração de valor ao longo do tempo. Fazer parte do DJSI ou do ISE significa o reconhecimento público e a alta aceitação por parte dos stakeholders, devido às boas práticas de ESG adotadas.
 

Outras métricas ESG podem ser:


Ambiental

Os fatores ambientais podem determinar quanta poluição ou resíduos uma empresa produz, além de mostrar quantos recursos naturais finitos a organização usa. Os recursos naturais podem incluir quanta água uma organização usa.
 

Social

Os fatores sociais se concentram na saúde e segurança dos funcionários, no ambiente de trabalho e nos produtos que uma empresa produz. Nessa métrica, uma empresa pode determinar sua taxa de inclusão e equidade salarial entre diferentes profissionais e como ela se compara ao padrão de salário mínimo local.
 

Um exemplo dessa métrica é se o fator de risco social for a segurança do produto, uma métrica social relacionada pode observar o número de recalls de produtos que uma organização tem em um ano.
 

Essa métrica pode contabilizar o gerenciamento de resíduos e como uma empresa está produzindo resíduos em um dia, semana, mês e ano. Por exemplo, se o fator de risco ambiental for a eficiência energética, uma métrica ambiental correlata pode medir a quantidade de energia que uma empresa usa por ano.
 

Governança

Os fatores de governança determinam como as decisões dos órgãos de governança, conformidade com regras ou estruturas de gestão da empresa afetam um negócio. Por exemplo, se um fator de risco de governança for a estrutura do conselho, uma métrica relacionada pode ser os dados de diversidade (formação acadêmica, experiência profissional, gênero, demográfica, etc.) dos conselheiros.
 

- Como as empresas e instituições podem integrar a sustentabilidade ambiental e questões sociais em sua estratégia de negócios?
 

R: Integrar a sustentabilidade ambiental e questões sociais na estratégia de negócios é uma abordagem cada vez mais importante para as empresas e instituições. Isso envolve adotar práticas sustentáveis e socialmente responsáveis em todas as áreas de operação e tomar decisões estratégicas que considerem os impactos ambientais e sociais das atividades empresariais. Aqui estão algumas maneiras de fazer isso:
 

Definir uma visão e valores sustentáveis: A empresa deve começar definindo uma visão clara para a sustentabilidade e os valores que guiarão suas ações. Essa visão deve ser incorporada em sua declaração de missão e comunicada a todos os funcionários, fornecedores e partes interessadas.
 

Incorporar critérios de sustentabilidade nas operações: A empresa deve analisar suas operações existentes para identificar áreas em que práticas sustentáveis possam ser implementadas. Isso pode incluir a redução do consumo de energia, o uso eficiente de recursos, a gestão adequada de resíduos, a adoção de tecnologias limpas e o uso de matérias-primas de baixo impacto ambiental.
 

Incorporar critérios de ESG (Environment, Social, Governance) na gestão e tomada de decisões: É importante buscar alinhar o crescimento econômico com o bem-estar social e a preservação do meio ambiente. A empresa deve considerar os impactos ambientais e sociais ao tomar decisões estratégicas e integrar critérios de ESG na gestão de suas atividades.
 

Estabelecer um bom relacionamento com a comunidade e os órgãos governamentais relacionados ao meio ambiente: A empresa deve demonstrar seu compromisso com a sustentabilidade estabelecendo parcerias com a comunidade local e trabalhando em conjunto com os órgãos governamentais responsáveis pelo meio ambiente. Isso pode envolver programas de responsabilidade social corporativa, iniciativas de voluntariado e participação em projetos de sustentabilidade locais.
 

Medir e relatar o desempenho: A empresa deve estabelecer indicadores-chave de desempenho relacionados à sustentabilidade e monitorar regularmente seu progresso. É importante relatar de forma transparente os resultados alcançados, destacando os impactos positivos e as áreas que precisam ser aprimoradas. Essa prática permite que a empresa avalie seu progresso, aprenda com as experiências e busque melhorias contínuas em suas práticas sustentáveis.
 

- Qual é o papel dos investidores na promoção de práticas empresariais responsáveis do ponto de vista ESG?
 

R:Os investidores desempenham um papel fundamental na promoção de práticas empresariais responsáveis, que integram a sustentabilidade ambiental e questões sociais em sua estratégia de negócios. Eles têm a capacidade de influenciar o comportamento das empresas e direcionar recursos financeiros para aquelas que adotam práticas sustentáveis e responsáveis.
 

Uma maneira de promover essa integração é direcionar recursos para empresas comprometidas com a sustentabilidade ambiental, inclusão social e boa governança. Isso incentivará o desenvolvimento de setores mais sustentáveis e a adoção de boas práticas de gestão corporativa.
 

Além disso, é importante fazer uma triagem criteriosa das práticas de governança, buscando empresas com alta pontuação nesse aspecto, práticas bem estabelecidas e transparentes, e descartando aquelas que se expõem a níveis de risco.
 

Ao tomar decisões de investimento, os investidores devem incorporar os fatores ESG (Ambiental, Social e Governança) em sua análise. Eles devem considerar o desempenho das empresas nas áreas do meio ambiente, sociedade e governança como um sinal de geração de valor no longo prazo.
 

Uma estratégia adicional é excluir ativos do portfólio que não sejam responsáveis nesses aspectos, escolhendo empresas com os melhores ratings em ESG e práticas. Também é válido utilizar critérios ESG para rastrear os investimentos e avaliar o comportamento e desempenho financeiro futuro das empresas.
 

Como acionistas, os investidores podem exercer seu papel cobrando das empresas maior transparência e comprometimento com as questões ESG. Isso pode ser feito por meio de assembleias, votações e diálogos construtivos. Engajar-se com as empresas nas quais investem é essencial para promover práticas empresariais responsáveis.
 

Além disso, os investidores podem apoiar iniciativas e projetos que tenham um impacto positivo no meio ambiente, na sociedade e na governança das empresas. Dessa forma, direcionam capital para empresas ou projetos que buscam resolver desafios sociais e ambientais, ao mesmo tempo em que geram retornos financeiros.
 

O voto nas assembleias gerais de acionistas é outro mecanismo importante para influenciar as práticas empresariais. Os investidores podem votar a favor ou contra propostas relacionadas a questões ESG, como mudanças na política ambiental, relatórios de sustentabilidade, remuneração dos executivos e composição do conselho de administração. O voto dos investidores envia um sinal claro às empresas sobre a importância de adotar práticas responsáveis.
 

Por fim, os investidores podem pressionar as empresas a divulgar informações relevantes sobre seus impactos ambientais, sociais e de governança. Exigir relatórios transparentes e padronizados sobre questões ESG permite uma melhor avaliação do desempenho das empresas e embasa decisões de investimento informadas.
 

- Como as empresas podem garantir a conformidade com os princípios ESG em toda a cadeia de fornecimento?
 

R: Para garantir a conformidade com os princípios ESG em toda a cadeia de fornecimento, as empresas devem seguir uma série de passos estratégicos. Primeiramente, é importante que elas conheçam os 17 objetivos de desenvolvimento sustentável estabelecidos pela ONU e avaliem os impactos positivos e negativos relacionados à realidade da empresa e de seus fornecedores.
 

Além disso, é fundamental estabelecer políticas ESG claras e alinhadas com a missão, os valores e os objetivos da empresa, comunicando-as de forma transparente aos fornecedores e exigindo o cumprimento dessas diretrizes.
 

Um aspecto-chave é o monitoramento e a avaliação do desempenho dos fornecedores em relação aos critérios ESG. Para isso, é recomendado o uso de indicadores e ferramentas adequadas, proporcionando feedbacks e orientações para a melhoria contínua.
 

Reconhecer e valorizar os fornecedores que demonstram boas práticas ESG é outro passo relevante. Essa abordagem cria uma relação de confiança e parceria, incentivando a inovação e a sustentabilidade na cadeia de fornecimento.
 

Avaliar a cadeia de fornecimento de forma abrangente também é essencial. Isso implica identificar os riscos e impactos ambientais, sociais e de governança associados a cada fornecedor, incluindo práticas de trabalho, uso de recursos naturais, emissões de carbono, políticas de direitos humanos, entre outros aspectos relevantes.
 

A seleção de fornecedores responsáveis é um passo crucial. As empresas devem considerar o desempenho ESG dos potenciais parceiros, priorizando aqueles que demonstrem comprometimento com práticas sustentáveis, equidade social e transparência em suas operações. Realizar auditorias e verificar certificações pode ajudar a validar essas informações.
 

A inclusão de cláusulas contratuais que estipulem requisitos ESG para os fornecedores também é uma prática recomendada. Essas cláusulas podem abordar questões como conformidade legal, direitos trabalhistas e proteção ambiental. Estabelecer expectativas claras desde o início é fundamental para garantir a conformidade ao longo do tempo.
 

O monitoramento e a avaliação contínuos são essenciais para assegurar a conformidade com os princípios ESG. As empresas devem estabelecer mecanismos de acompanhamento regular, que podem incluir auditorias, relatórios de desempenho, visitas in loco ou o uso de plataformas tecnológicas que forneçam dados e indicadores relevantes.
 

Por fim, a transparência e a comunicação desempenham um papel essencial. As empresas devem ser transparentes em relação às suas próprias práticas ESG e comunicar seus esforços aos fornecedores, parceiros e outras partes interessadas. Isso pode ser alcançado por meio de relatórios de sustentabilidade, canais de comunicação abertos e iniciativas de engajamento.
 

- Como você enxerga o futuro dessas práticas?
 

R: O futuro das práticas ESG adotadas por empresas é visto como uma tendência irreversível e uma oportunidade de transformação positiva para o mundo. Consumidores, investidores, reguladores e a sociedade em geral estão exigindo que as empresas sejam responsáveis e transparentes em relação aos seus impactos ambientais, sociais e de governança. Aqueles que não se adaptarem a essa realidade correm o risco de perder competitividade, reputação e valor.
 

No cenário atual, os negócios podem desempenhar um papel importante liderando pelo exemplo e incorporando os princípios ESG em sua estratégia, cultura e operações. As empresas têm a capacidade de contribuir para a solução de grandes desafios globais, como mudanças climáticas, desigualdade social, diversidade e inclusão, ética e integridade. Ao mesmo tempo, podem gerar valor para acionistas, clientes, colaboradores e comunidades, criando vantagens competitivas.
 

Essas práticas não serão apenas requisitos básicos, mas também vantagens competitivas. Organizações que demonstrarem compromisso genuíno com a proteção do meio ambiente, melhoria das condições sociais e adoção de práticas de governança transparentes e éticas tendem a atrair mais clientes, investidores e talentos.
 

Ao implementar medidas ESG, as empresas contribuem para a preservação do meio ambiente, melhoria das condições sociais e construção de um futuro mais justo e sustentável. Essas práticas trazem benefícios não apenas para a sociedade, mas também podem gerar retornos financeiros a longo prazo, à medida que a demanda por produtos e serviços sustentáveis aumenta.
 

Portanto, espera-se que, no futuro, as empresas incorporem cada vez mais as práticas ESG em suas estratégias e operações, reconhecendo que essa abordagem não apenas atende às expectativas da sociedade, mas também é fundamental para a viabilidade e o crescimento dos negócios.
 

- Por fim, quais são suas recomendações para outras empresas que desejam implementar práticas ESG em suas operações?
 

R: Recomenda-se que empresas que desejam implementar práticas ESG em suas operações sigam as seguintes orientações:
 

Definir um propósito claro e alinhado aos valores da empresa, que oriente as decisões e ações relacionadas aos aspectos ESG. Isso fornecerá uma base sólida para a estratégia de sustentabilidade da organização.
 

Estabelecer uma estrutura de governança abrangente, envolvendo os diversos níveis da empresa e seus stakeholders na gestão ESG. Isso garantirá que a responsabilidade pela implementação e monitoramento das práticas esteja bem distribuída e que haja um compromisso coletivo com os objetivos ESG.
 

Realizar uma avaliação abrangente dos riscos e oportunidades ESG no setor de atuação e nos negócios da empresa, levando em consideração as expectativas e demandas de seus públicos de interesse. Essa análise permitirá identificar áreas de melhoria e pontos de ação prioritários.
 

Estabelecer metas e indicadores ESG relevantes e mensuráveis, alinhados aos objetivos globais de sustentabilidade, como os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. Isso ajudará a orientar as ações e a acompanhar o progresso da empresa em relação aos aspectos ESG.
 

Implementar ações e iniciativas ESG que gerem valor compartilhado para a empresa e a sociedade, buscando inovação, eficiência e impacto positivo. Essas práticas devem ser integradas às operações diárias e considerar o ciclo de vida dos produtos e serviços oferecidos.
 

Monitorar e relatar o desempenho ESG da empresa, utilizando padrões e estruturas reconhecidos pelo mercado, como o Global Reporting Initiative (GRI), o Sustainability Accounting Standards Board (SASB) e o Task Force on Climate-related Financial Disclosures (TCFD). Isso promoverá a transparência e permitirá a comparação com outras empresas do mesmo setor.
 

Buscar aprimoramento contínuo e aprendizado constante sobre as tendências e melhores práticas ESG, além de promover o engajamento e a colaboração com os stakeholders. Isso ajudará a empresa a se manter atualizada, identificar oportunidades de inovação e fortalecer sua reputação no mercado.

 

O Projeto Oportunidades para Crescer conta com os seguintes patrocínios:

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